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Paixão pelos Pássaros |
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Se tivessemos que escolher uma figura importante para representar nosso bairro, sem dúvida alguma que o nome Johan Frisch Dalgas seria citado como um dos candidatos do Morumbi.
Paixão pelos Pássaros
Engenheiro por formação, ornitólogo por paixão, Dalgas é conhecido mundialmente por seu amor e conhecimentos sobre todos os tipos de pássaros. Com 83 primaveras de vida, como ele gosta de dizer, foi um dos primeiros moradores da região da Cidade Jardim, para onde se mudou na década de 50. À época, Dalgas nem imaginava morar por aqui, mas foi dissuadido pelo pai, um pintor dinamarquês que dividia com o filho a adoração pelas aves, e que lhe aconselhou a procurar um lugar alto para construir sua casa. Segundo ele, se a represa Billings, local onde o filho passava o verão com outras crianças quando novo, explodisse, a cidade seria inundada.
Aliás, você morador do bairro, deveria dar uma passada na casa de Dalgas para agradecê-lo uma hora dessas. Ele é responsavél por transformar a região em zona residencial. "Quando criança, passava por aqui de bicicleta durante as férias escolares e era tudo mato. Nos anos 50, quando me mudei pra cá, haviam no máximo duas ou três casas na região, não se conseguia permissão para construir" conta. Dalgas então, brigou na prefeitura para que pudesse projetar a casa em que hoje fica seu escritório. Endereço? Praça do Uirapuru. A praça, que fica em frente à sua casa, foi adotada pelo ornitólogo há muitos anos e desde então ele vem adicionando árvores e flores de todos os cantos do planeta, no intuito de atrair diferentes espécies de aves. Aos que reclamam da falta de pássaros cantando e de natureza ele avisa. "Os pássaros gostam de comida, só isso. Recentemente viajei para Miami e vi um único e solitário pardal. Culpa daquelas palmeiras de plástico, as únicas árvores que vi por ali. Abandonei os planos da viagem e fui à prefeitura da cidade reclamar".
A praça leva o nome de uma das mais raras aves da fauna brasileira, e foi batizada em homenagem ao maior e mais conhecido dos feitos de Dalgas, a primeira gravação do canto do Uirapuru. Em 1962, ele gravou o canto de mais de 30 aves brasileiras com um equipamento projetado por ele mesmo e lançou o LP "Cantos de Aves do Brasil". O álbum fez um sucesso enorme na época, permanecendo por 18 semanas em primeiro lugar na lista dos mais vendidos no país, desbancando nomes como Ray Connif e Chubby Checker. Com mais de um milhão de cópias vendidas, rendeu um disco de ouro a Dalgas. "Quando eu conto, ninguém acredita." Até no iTunes a coletânea está à venda pela bagatela de onze dólares! Mas Omar Fontana, fundador da Transbrasil, e seu amigo pessoal, o desafiou a gravar o canto do Uirapuru, uma ave raríssima da Amazônia que só canta por quinze dias de outubro à novembro. E lá se foi ele, às custas dos royalties de seu disco e de fãs do seu trabalho que o ajudavam com estadia e alimentação. Após uma longa jornada, chegou à divisa do Acre com o Amazonas, e com a ajuda de um índio, que o avisou quando espantava um pássaro de seu equipamento, conseguiu a gravação. "Esse é o uirapuru!" disse o índio. Dalgas gravou perfeitamente sete diferentes cantos da ave, tornando-o ainda mais conhecido pelo Brasil.
Dalgas é história viva. Conheceu e conviveu com inúmeras personalidades como Assis Chateaubriand, Nelson Rockefeller, Getúlio Vargas e Hebe Camargo. Em 2012, recebeu das mãos da presidente Dilma Roussef a Ordem do Rio Branco, condecoração mais alta do país. Mas sempre manteve sua paixão pela natureza acima de tudo. Nos anos 60, com a ajuda da amiga Hebe e de radialistas conhecidos, incentivava donas de casa a plantarem amoreiras, pitangueiras e jabuticabeiras no quintal de suas casas, para atrair pássaros como sabiás e beija-flores. Segundo ele, a campanha funcionou e hoje a cidade de São Paulo é a que possui mais sabiás-laranjeira em sua fauna. Em 1998, foi atrás do beija-flor pico-espada, espécie considerada extinta há mais de setenta anos. Após muita pesquisa, descobriu que o alimento dessa ave só era encontrado em regiões montanhosas da Venezuela e da Colômbia. Quando partiu em busca do tal beija-flor descobriu o porque dele nunca ser visto ou fotografado. As montanhas eram território das FARC, grupo de terroristas que atua em território colombiano. Não se intimidou, e com a ajuda do filho Christian, foi o primeiro a fotografar e catalogar o pássaro. Pelo que parece, para o homem pássaro, nem o céu é o limite.
